Ele tinha lá seus 2 aninhos e pouco, brincava sozinho, livre, feliz da vida.
Andava, girava, as vezes se desequilibrava com seus próprios movimentos, e bum, caia de bunda no chão, fazia cara de choro mas desistia e voltava a pular e se balançar pros lados. Soltava gritinhos estridentes de alegria, e quando estava muito empolgado, levava a mão ao saquinho.
Observando a cena comentei com um amigo:
- Porque será que quando essas crianças ficam assim entusiasmadas seguram o pintinho?
Ele respondeu:
- A gente também seguraria, mas nos controlamos até chegar em casa.
Crônica de um dia
( ficou um pouco longo, mas como faz tempo q não posto... e há! É pra ler assim meio correndo, meio sem virgulas, meio agitado, meio sem se aprofundar, assim São Paulo ...)
Gosta de crônicas? - Ele pergunta.
Acordei cedo, leve friozinho num dia que se sabe será de muito calor.
Fiz uma aula de yoga, saí 5 minutos mais cedo, corri pro metrô, o trem atrasou.
Atrasou atrasou...
Pessoas acumulando na plataforma.
Nenhuma voz explica nda.
Minutos passam, pessoas se entreolham, algumas bufam.
Plataforma lotada mas td mundo direitinho atrás do adesivo azul.
Uma esperta chega do meu lado - Estou na frente.
- Quebrou é?
- Num sei. - Respondo meio aérea.
Chega finalmente. A mulher é tão esperta q ainda conseguiu entrar antes de mim. Sou empurrada pra dentro do vagão. Me fez lembrar um mantra.
“ A onda do mar, esta em mim o mar... Eu sou a onda, está em mim o mar...”
O mantra me acalmou durante o trajeto esmagada. Descida, quebro na areia, caminho correndo pra compensar aquele descanso na plataforma.
Chego, num da nem tempo pra uma água. Estão lá as alunas, academia só para mulheres. O único homem é o dono.Esperto.
Aula corre tranqüila. Ao final, uma vem dizer q passou a semana toda sentindo o músculo do abdômen.
Como toda boa professora de yoga, faço uma cara serena serena e digo:
- Hum... pode ser q você tenha ido além de seu limite, é preciso respeitar o corpo.
Outra aluna ajuda: Mas é uma dor boa, de músculo trabalhando.
Pego meus CDs desligo o ar e corro pra próxima aula.
Ônibus até a Brigadeiro, como uma barrinha de cereal, pego outro bus até o Itain.
Aulas dadas. Casa, preparo almoço, brinco com as gatas, tiro um cochilo de 30 minutinhos, checada básica no horóscopo do dia:
“ Hoje você esta com um poder de magnetismo pessoal inexplicavelmente forte”
Banho e Psicólogo.
Você é muito mental – Ela diz.
Penso com os meus botões:
Mas meu coração tem que bater.
- Você segura tudo muito com a cabeça. – Ela insiste.
Pensamentos insistem:
A cabeça agüenta, o coração sufoca.
Cabeça transforma em poemas, coração paralisa.
Tenho medo que ela me cure e eu nunca mais escreva poesia.
Sai do consultório, o céu esta cinza cinza, mas saco da bolsa um imenso óculos escuros que escondem os vermelhos da minha consulta.
Desço a rua cheia de bares na Vila Madalena,
é terça feira, mas é duble drink , o bar já esboça alguns solitários que observam o meu caminhar...
O mundo desaba enquanto estou no ônibus. Meu ponto chega e ele continua desabando, sem ter o q fazer me entrego as águas, tenho um guarda-chuva, mas sinto q a única coisa q ele protege é o meu couro cabeludo.
Metro, Brigadeiro ainda chove, encaro. Sesc.
Décimo quarto andar... penso em tomar alguma coisa quente...
Dou uma passada no banheiro, e tento secar as pernas e pés (ainda bem q estava de vestidinho e sandálias...) esqueço de olhar no espelho.
Décimo quarto andar... até quando vou entrar e olhar pra esquerda?
Sei q você nunca mais esta lá! Até quando vou chegar no décimo quarto andar e ainda olhar pra esquerda no décimo quarto andar?
Observo alguns rostos conhecidos, típicos daquelas pessoas que freqüentam os mesmos circuitos centrais culturais baratos.
Caminho em direção ao bar. Quero uma coisa quente, outra que sustente e algo doce... Só isso passa em minha mente.
Um dos rostos conhecidos me olha. Esboço um cumprimento meio tímido. Na lata ele devolve:
- Você parece uma leoa. Uma leoa cansada.
Só consigo pensar, diante de inusitado comentário, que devia estar realmente descabelada.
- Gosta de crônicas? - Ele pergunta.
- Se forem boas... - Respondo com displicência .
Eis que então ele me oferece um livro de crônicas de sua composição. E depois parte com o seu amigo também escritor.
Fico eu, meu caputino e o livro, que se demonstra muito interessante. crônicas do dia a dia desse personagem que freqüenta os mesmos lugares que eu. Feiras, centro cultural Vergueiro e até a mesma casa na rua João Moura.
Chego a me assustar achando que poderia me encontrar em alguma esquina de suas linhas.
Como não sofri a insídia esperada resolvi, de embalo, fazer uma minha.
Perdida no cotidiano familiar das crônicas desse desconhecido, agora já muito conhecido....
Um rapaz, de bela aparência e desenvolta constituição física, se intromete em meus pensares perguntando sobre o que eu estava lendo.
Ai! Esse magnetismo inexplicavelmente forte do dia...
Entabulamos uma conversa que não me empolga muito.
Ele acha q estou interessada, porque mecho nos meus cabelos. E eu mecho nos meus cabelos porque ainda estou com “leoa cansada” na cabeça.
Distraidamente, enquanto conversamos, desenho em um papel setas para baixo, e só percebo isso quando ele pergunta:
- Quando q você desenhara setas pra cima?
Penso, um pouco que deprimida, infelizmente acho q no meio dessa conversa, não subirão setas...
Então, em seu not, ele me mostra um trecho de um filme do Pequeno Príncipe.
- Nem sabia que tinha filme...
A cena é a clássica da Raposa que quer ser conquistada pelo menino.
Desde que eu li um texto da Fernanda Young sobre esse momento do livro, só consigo pensar q essa Raposa é mesmo muito carente.
Não tenho animo pra elaborar nenhum comentário inteligente depois da cena, o q desanima um bocado o rapaz raposa que queria ser conquistado.
E então ele parte.
Resolvo partir também aproveitando o período entre - chuvas.
Caminho pela Paulista em direção a 13, umas gotas caem do céu, mas tenho preguiça de segurar o guarda-chuva, sinto me cansada, mas animada ao mesmo tempo. O ar da noite sempre me inspira.
Chego no chique condomínio em q dou aula. Passo o primeiro portão, tenho q assinar o meu nome em papel com um segurança porteiro.
- Libera o s2. - Ele fala com alguém em seu radinho.
Passo o segundo portão, fico presa por uns instantes.
- Libera o s3 - Repete.
Adentro então na fortaleza condomínio, tem uma bela área de lazer bem arborizada cheia de bancos, nunca vi ninguém por lá, nunca vi crianças brincando no parquinho e nem na quadra.
Troco de roupa. Esta cedo, voltou a chover.
Resolvo passar na academia, e vou direto pra área da musculação, reduto masculino.
Não tenho muito assunto, então resolvo pedir alguns exercícios para o tríceps. O professor se empolga e acho q passa todos q ele conhece.
Não tenho muito assunto, então resolvo pedir alguns exercícios para o tríceps. O professor se empolga e acho q passa todos q ele conhece.
Fico por lá dividindo os aparelhos com os outros caras, q se revelam tão fofoqueiros qt as mulheres.
Falo sobre o meu músculo abdominal chamado panceps e arranco boas risadas.
Ai! Esse magnetismo inexplicavelmente forte do dia...
E então eles começam a falar do cara que engordou, do outro q não limpa os equipamentos, do moleque que não agüenta o peso...
Falam de tudo, só não falam daquela menina deitada no aparelho pros glúteos, com um tope decotado mostrando um belo e curvilíneo colo, o que faz com que por alguns instantes eles se lembrem porque passam dias e dias dentro de uma academia cheia de homens e um tanto qt fedida. Mas é porque eu ainda não estou naturalizada em seu meio.
Faço os exercícios e me despeço para a minha aula.
- Quero ver esse tríceps rasgando ein?! – diz o professor
Agora já tenho assunto com eles.
Chego na minha sala, não veio aluno nenhum. Meu chefe aparece e me pega de papo com a professora de pilates.
- Estou preocupado – ele diz. – O que falta pra sua aula encher?
Tenho total confiança na qualidade do meu trabalho, e conhecimento na qualidade de meus alunos, então faço aquela cara serena serena e respondo sem pestanejar:
- Falta só, depois de um dia intenso de trabalho, temporal, trânsitos e alagamentos em mais da metade da cidade, o aluno querer sair de seu apartamento de baixo de chuva e vir aprender a respirar.
Imagem: 1,2 D. Xavier 3 Sati K.
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