Relação virtual






Encontraram-se
e não foi um acaso da vida, a vida esta muito corrida e as pessoas enferrujadas pra se deixarem levar ao acaso.
Encontraram-se porque procuravam. E como procuravam...
Perdidos em horas navegadas, os olhos agitados de páginas à páginas,
navegantes, um tanto quanto entusiastas dos meios.
Sentiam em pele, a dor do frio virtual que secava a quem dia a dia se faz sensível.

Tanto assim que se deixaram
tanto assim que as letras mal digitadas da velocidade da conversa, subiam e subiam
Horas a fio...

O pulso doía, a luz lá fora caminhava  ofuscada pela intermitência da luz quadrada, não percebiam, não sentiam o movimento da vida que vai,
o gato espreguiça, passeia pela ração
a perua buzina lá fora trazendo crianças sujas e famintas,
o elevador que sobe, desce...
As letras, as letras, os sorrisos e risadas das conversas dedilhadas,
Risadas dedilhadas .

Então se encontraram
no mesmo instante se amaram, precisavam se amar, pois enfim se encontraram.

Conversaram  como que velhos conhecidos, mas sem saber ser confortáveis e espontâneos quando na intimidade de seus teclados...
O papo se perdia, quase não tinham como se apresentar, já estava tudo dito em suas páginas em face, e seus dias expressos em carácteres, acompanhados e comentados.

Tudo resumido, assim dito por dito, restava o toque...
E se permitiram rapidamente a ele. Talvez por puro medo, de que aquele silêncio expresso no contato dimensional, os afastasse definitivamente da felicidade de olhar a janelinha subindo com o dizer, “acabou de entrar”.

O toque de corpo foi um misto de surpresa e revelação na constatação do auto-engano.
Realmente não se conheciam, definitivamente dois estranhos estavam ali.
Mas valia, valia tudo o que sentiam quando visitavam os blogs afoitos por novidades deixadas em formas poesias.

Duas @@ juntas agora, comentariam em seus caracteres, @namora@, receberiam RTs de felicitações, dos amigos em comum de todo o canto do país, cidades e cidades do mundo, duas @, quem sabe um dia @binhas viriam...

Nos outros dias cada um em seu trabalho, prosearam pelas links virtuais o decorrer do dia, Facebook, bate papo do Gmail, msn, Skipe... os dois estavam em todas as contas um do outro.

Chegavam em casa e antes de qualquer coisa, de ascender a luz, acariciar o cachorro, lavar as mãos... Iam direto ligando o computador... E vai quase um minuto de interminável espera até a conexão em fim.

“ poxa, estamos conversando aqui, mas podíamos ter nos encontrado hoje né?”
“ Ah, mas acordo cedo amanhã”
Dois pontos abre parentes.
“ Mas já são quase uma e você ta aqui...”
Erre esse erre esse.




 Não tinham percebido até então que a relação poderia ir por caminhos mais livres, sem o intermédio de uma face brilhante.

Um dia ele tinha uma reunião o dia todo. Avisou no TT via celular. Ela estava então uma tarde toda sozinha... Começou a vasculhar sua vida, os 4573 recados no Orkut, o mural do facebook foi até onde podia, começou a ler os quase 6,000 twettes, e até as 289 respostas no famigerado formspring.

Ela sentia que podia fazer isso, nada dele sabia, e ademais esta tudo lá, o pessoal no público. Ela era o seu público agora.
Ela tentava traçar linhas de conexões, recados mais ousados como, “saudades”  procurava até onde podia pra saber mais de onde vinha.
“Saco, hoje em dia todo mundo bloqueia tudo...”

Uma rotina mais palpável começou a se fazer, telefonemas tornaram-se mais significativos que letras que subiam.
Entravam invisível no msn a fim de não perderem tempo com os papos insignicativos de agora sentidos falsos conhecidos.
As pessoas comentavam publicamente, cadê @ tal que sumiu.

Foram assim, por puro excesso de rotina de sua união, afastando-se do que um dia foi mais real. dedicando-se agora à um mundo onde se sente os passos do pé no chão.

Claro que ele ainda falava com @anamineira, e ela mantinha contatos com @papopoeta, mas menos, bem menos...

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