Supero


Por que eu não supero?
Meu corpo treme de febre, ardor dessa dor sem correspondência
meu estomago se revira a espera de um toque seu.
Que não vem, que não vem...
Por que eu ainda espero,
por que eu ainda quero?

Vem um vem outro eu me distraio, me deixo levar,
mas eu volto, vem e vai, e eu volto.
E espero um recado
e espero um dizer
que não vem, que não vem!

Meu corpo se embrulha nele mesmo buscando se encontrar
encontrar lá no fundo o que me acolhe.
Pra de novo eu não me ver,
nessa dor de ver mais uma te chamando de amor.
Que brega .
Por que isso me fere?

Você vem assim, na minha vida deixando todo seu rastro dentro. E vai solto, leve flutuando em outros ares.
Eu também quero flutuar
Mas vem um, vem outro
Eu não deixo nem me chamarem de meu bem
e já tem mais uma te chamando de amor.
E você não me deixou chamar de nada
você não me deixou te dizer nada!

Por que isso me interfere?

Esse eu não posto, não divulgo.
Eu escondo lá no meu fundo que ainda não superei
Eu escondo lá no meu fundo que te persigo em pensamentos
E que me afeto, e que me afeto.
E espero um toque seu, um contato...
Você não fica sozinho.


Imagem: Michael Parkes

Mes


Perguntaram a ele e assim foi o que ele disse, eu vivi o fato e ele fez em conto.

Descreva um encontro inesquecível.

( Aleph Davis)

Era um primeiro encontro, o meu último. Nem era para ser algo romântico, apesar da garota ser interessante. Nunca havíamos nos visto antes, mas nos abraçamos, para começar; e olhamos bem no olho um do outro. E gostei muito do que vi.

Metrô Consolação. Era segunda feira de Carnaval, uma tarde quente. Ela linda. De muitos sorrisos. Havia poesia ali.

Só havíamos conversado uma vez, na noite anterior, pela internet, sobre trabalho. Mas não sei como concordamos em nos encontrar pessoalmente e, o mais estranho, sabíamos que não seria para falar de trabalho.

Caminhamos um pouco à esmo, descontraídos, a flanar lado a lado, descendo e subindo a Rua Augusta. Conversávamos sorrindo, um pouco bobos. Paramos para tomar um chá gelado e conversar melhor, frente a frente.

Ao anoitecer fomos até o vão do MASP, onde as conversas ficaram mais sérias, profundas, um pouco confessionais e em têrmos e olhares cada vez mais íntimos. Inteligente ela. Nenhuma das nossas diferenças podia nos afastar, e a proximidade aumentava à medida que afundávamos nossos olhos na noite, olhos vívidos como nossos corações.

Caminhamos em direção ao Paraíso, e fomos parar no número 1000 da Rua Vergueiro, onde escalamos a rampa sobre a qual se expõe o logo do Centro Cultural. Sentados lá em cima, começamos a averiguar com as mãos as mãos um do outro, e logo o rosto e os cabelos. Abraçamo-nos intensa e demoradamente. Então nossas cabeças começaram a dançar juntas, tocando-se mutuamente, devagar, como o fazem dois animais carinhosos; as mãos entrelaçadas, os olhos fechados, e nossas antenas (cada poro) em fina sintonia, sinfonia. Tanto que ouvi fonemas e ela viu cores. O que mais e mais se intensificava, em nosso silêncio cúmplice. O beijo, o melhor do mundo, foi uma simples conseqüência, ato contínuo, poético; acariciávamos com lábios os lábios, a língua com a língua, numa delicada operação mágica, de conversão e amálgama, de reconhecimento e entrega.

Foi uma experiência descontrolada de respirar o momento, dádiva plena dos dois sermos um, de admissão dos sentidos, rito iniciático ao outro.

Eis como tudo começou... a amizade, a paixão e o amor. Estamos namorando desde então, e hoje faz um mês. Cada novo encontro nosso é sempre melhor do que o anterior, todos eles inesquecíveis.


Mais do autor:   http://naofiquesao.blogspot.com/




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