Ano novo

Lá pelas tantas ela vira e fala:
- Meu, tem uma coisa que eu quero te dar já faz um tempo.

E vasculha no meio de sua bolsa até encontrar um passe de metro meio amassado, ela olha para ele, sorri com o seu rosto meio vidrado da madrugada de ano novo e me entrega. Eu olho meio incrédula “será isso?” Estou na praia, meus pés estão cheio de areia e minha cabeça um pouco zonza, vendo sua empolgação ao me dar singular presente a abraço e guardo o passe na minha bolsinha. Olhando para os bêbados que se moviam pelas areias não tive como não pensar sobre o ano que viria. Que pressagio teria aquele presente naquela hora, seria mais um ano de tantos acontecimentos insólitos que não teriam explicações? Então volto os ouvidos pra o som do violão e da cantoria empolgada e desafinada.

Dias depois estou na rodoviária, espero o ônibus que me levará de volta a rotina, tudo esta normal e tranqüilo, só o corpo um pouco cansado, tão diferente dos outros anos em que nem pensaria estar voltando pra casa tão cedo, e na verdade, nunca me lembro das minhas voltas. Espero o ônibus, de pé na plataforma com um livro que peguei emprestado, o livro traz alguns contos de ciganos é sempre alguma historia de como um cigano com sua esperteza soube aproveitar as oportunidades do destino e se dar bem de alguma maneira. Uso a minha passagem para marcar as páginas. Algumas pessoas esperam impacientes os ônibus, outras parecem estar com o pensamento longe talvez projetando sua chegada ao destino. O ônibus chega, eu apenas observo, espero o tumulto inicial se acalmar e entro na pequena fila que resta, sinto alguém roçando em minha mochila não presto muita atenção mas uma hora resolvo virar e vejo uma pequena velhinha, ela esta toda de azul com um pacote de salgadinhos na mão, eu sorrio pra ela de forma cúmplice, eu gosto de velhinhos, ela retribui o sorriso mostrando sua boca desdentada e suas gengivas inflamadas. Entro no ônibus.

O ônibus estava prestes a sair, quando o motorista entra com um objeto cor de rosa nas mãos perguntando quem perdeu. Era a minha carteira. Foi uma velhinha que encontrou - ele disse. Agradeço, achando estranho porque eu usei a carteira apenas pra comprar a passagem, depois não peguei mais nela, e o guichê da rodoviária era do outro lado, não tinha como eu ter perdido ela ali perto do ônibus... abro a carteira não tem mais nada alem dos meus documentos. Puta! A velinha me roubou??
Antes de pensar: Como vou voltar pra casa??! Lembro do inusitado presente na noite do ano novo.

È, esse promete ser mais um ano sem muitas explicações.


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(esse fato foi q deu origem ao conto q deu a idéia do blog...)

2 comentários:

  1. hahaha lembro-me bem dessa histórinha ... a velhinha surrupiadora! xP
    Beijo queridona ... sigo refletindo sobre imagens fugidias ...

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  2. pequenino do cabelo grandão8 de setembro de 2009 às 19:03

    nunca subestimar os mais velhinhos..rsrsr em terra de caolho quem tem um olho tem dois..rsrsrs beijos adorei a estória..

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faça o que tu queres! agradeço a interação

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