Cidadiano

Entrou no metrô, que estava lotado, as pessoas expressavam nenhuma expressão, aquela situação de aperto, proximidade forçada poderia gerar um certo desconforto, e até angustia, de se estar dentro de uma caixa de metal , debaixo da terra em uma velocidade, mas todos estavam só .... além disso não tinha cheiro, aquelas pessoas que passaram um dia inteiro fazendo seilá o que, não possuíam nenhum cheiro característico de nada. Suas cores também opacas de um setembro.

Ela segurou a barra do metrô com as duas mãos, e como era mais baixa, aproveitou para fazer uma espécie de alongamento utilizando as barras. Olhares de estranhamento, as barras do metrô servem apenas para se segurar qualquer atividade diferente desta, por mais que a posição fosse praticamente a mesma- segurar firmemente com as duas mãos a barra- é visto como uma depravação da ordem, loucura ou coisa do gênero. Ela quase ouviu a voz no alto falante dizer: “O metrô é seu meio de transporte, não de uma de louca em seu interior.”


Chegou em casa, descalçou os sapatos e pos chinelo. Foi a banheiro e lavou as mãos, com outro diferente sabonete lavou o rosto. No quarto tirou a calça e colocou uma calça, tirou a camiseta e colocou uma camiseta. Foi a cozinha e com a geladeira aberta refletiu que precisava ir ao mercado. Foi ao quarto e colocou uma terceira calça, e ainda colocou um tênis, e com preguiça de trocar a camiseta colocou uma segunda blusa por cima. Laura não reparou que em poucos minutos trocara de roupas 3 vezes sendo calças por calças e assim por diante.

No mercado, enquanto esperava na fila do açougue olhou com um certo asco para línguas de vaca que estavam em promoção, e pediu um kilo de colchão mole que custava mais que o dobro que a língua, apesar de uma vaca ter apenas uma língua e muito mais carne para ser consumida. Mas ela não pensou nisso, só pensou que nunca comeria uma língua, assim como nunca comeria um cachorro. Também não pensou que muitos indianos nunca comeriam nenhuma parte de uma vaca, assim como os chineses adoram uma carninha de cachorro.

Sentiu calor no caminho para casa, mas não se atreveu a tirar a blusa e demonstrar a sua veste escolhida somente para estar em casa. Chegando ao prédio, deparou-se com a situação de ter que dividir o elevador com dois vizinhos e mais o novo zelador que acabara de chegar do nordeste e era expansivo por demais para aquele momento, os vizinhos se comprimentaram com a cordialidade rotineira e o zelador tentou entabular uma conversa enquanto subiam os andares. “ fez compras hoje?” ela sorriu sem graça como que respondendo. Não gostava daquela situação, não pensava se isto era pelo fato de estar em mais um quadrado em movimento, ou por estar no meio de 3 diferentes e desconhecidos homens. De fato Laura experimentava sensação de aversão em tudo isso, mas isso ela também não sabia, ela pensava, estou muito cansada só quero chegar na minha casa e ficar tranqüila...



Foto: Julio Cesar

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